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terça-feira, 2 de julho de 2013

Homem, Passado e Esperança


Acordei hoje não sei se sedo ou tarde, no entanto senti os raios solares invadiam o quarto através das frechas da velha janela de madeira, as cortinas brancas não conseguiram segurar os pequenos flocos de raios solares que com demasiada dificuldade adentravam aquele âmbito iluminando alguma parte do quarto que era dominado pela penumbra inquietante que pairava sobre o local. A única luz acesa era à de um abajur que estava sobre o lustroso piano de cauda branco, acomodado no canto de uma das quatro paredes que compunham o grandioso quarto. A iluminação amena trazia um ar macabro ao esconderijo do pobre garoto, pelas ínfimas fendas nas cortinas — feitas propositalmente por sua mãe — vinham a luz que alumiavam o quarto. O garoto jazia sentado sobre um confortável banco recoberto por veludo, as orbes claras fixavam-se nas teclas do teclado. As pálpebras se fecharam e os dedos começaram a mover-se lenta e harmoniosamente sobre a estrutura delicada do instrumento de teclado. As notas começaram a preencher o quarto como se fossem uma leve brisa à adentrar pelas janelas espalhadas pelo quarto; harmoniosamente elas ecoavam pelo espaço disposto as mesmas perambularem, dançando uma envolta d’outra, como se fossem uma companhia de balé em extrema concordância de passos. Como se fosse num sonhos, cenas e imagens apareciam fronte à ele, momento dolorosos que causavam extrema dor emocional ao púbere. Seus sonhos destruídos e jogados ao lixo, seus pensamentos menosprezados e suas atitudes desqualificadas. Ele sorria para não chorar e vivia pelo ínfimo desafio de sobreviver, a vida havia perdido o sentido à um longo tempo, e se perdurasse assim, já não teria sentido para definir sua vida. A lamúria de uma velha dor conseguiu escapar-lhe do peito, transformando-se numa lágrima que decaiu sobre a face lívida e perfeita, os lábios róseos se contraíram enquanto a face se materializava numa aparência dolorida. Em momento algum ele parou de movimentar os dedos sobre seu instrumento, o que apenas fez com que a corrente que circundava seu coração se apoucasse cada vez mais. [...][...] E o homem que um dia fora considerado o mais forte dentre os que habitavam ao seu lado, hoje não passa de uma criança, escondido num quarto escuro de motel. E o homem que um dia comandou um exército, salvou a terra, trouxe paz a nação, hoje é o causador do caos.[...] E sabe esse homem que se encontrava perdido em seu mundinho das trevas? Hoje em dia ele vaga pelo deserto do caos, sozinho, solitário, perdido... Morto. [...] Como uma flor destruída e sem pétalas ele tentava sobreviver: sem amor, sem carinho, sem paixão. Sua dores eram suas amigas e faziam de si um novo homem a cada dia, seu quarto transformou-se em sua caverna particular; ele não conseguia abandonar o passado. E como se fosse um sopro de vida, o corpo começou a mover-se no ritmo dos dedos, embalando-se no ritmo da música que pairava sobre sua cabeça. O coração havia sido retalhado em milhares de pedaços, nenhum resquício de dó se quer havia num daqueles fragmentos. Ele não conseguia sonhar ou pensar, era como uma brasão amena à tentar acender novamente suas chamas por si própria: falhava, e, a cada tentativa, sucumbia cada vez mais diante da dificuldade que ele mesmo havia colocado sobre a sua vida. Uma barragem o impedia de chegar ao lado, uma barragem o impedia de ser feliz, uma barragem o impedia de ser ele mesmo. A tristeza acomodou-se sobre a sua vida e ele desistiu da chance de tentar, ele não queria um recomeço, ele só queria um tempo de exílio... Chega de ilusões, já basta de mentiras! Viver um novo tempo é preciso. Dondona, sua alma, dedilhou as pernas do humano, emitindo um som doloroso pela garganta: Não faça isso consigo mesmo, Albert. Proferiu a gata. Um rio de lágrimas havia transbordado pelo olhos verdes do homem, este que estava a finalizar sua música. Um último toque fora dado e um silêncio ensurdecedor apossou-se de todo o comprimento do quarto. O jovem ergueu-se, cambaleante, caminhando até a janela em passos vagarosos. Anuiu a cabeça na direção onde outrora estava, podendo vislumbrar por um breve momento o crepitar de seus sonhos dentro da lâmpada. A face contorceu-se num sorriso tímido, este que logo se delineou nos lábios do jovem rapaz. A mão sinistra fora erguida, e com um único movimento, ele puxou a cortina. A luz do sol irradiou a luz por todo o recinto, este que logo fora todo aclarado pela luz do sol. [...][...] A corrente que adstringia seu coração fora quebrada, a esperança ergueu-se dentro de seu âmago. Ele novamente tinha esperança. Um estrondo ecoou pelo quarto, e ele meneou a cabeça na direção do piano: a lâmpada havia se desfragmentado. A esperança esvaiu-se como se fosse uma folha caindo do galho de uma árvore: perdeu-se nas correntes de ar que o levariam de volta ao obscuro. A barragem reergueu-se e seu mundo voltou a ser um local sem estrelas ou qualquer coisa que cintilasse, sem luz, sem vida, sem motivo. Deitado sobre a cama os olhos fixavam-se no teto negro, viajando entre os universos da realidade e da imaginação em que ele vivia; ele não tinha forçar para caminhada, necessitava de um porto de seguro... Necessitava de uma mão amiga. Seu porto seguro adentrou num vácuo que ia em direção ao abismo, e ele estava a beira deste, beirando o abismo profundo e longínquo. Rodeava-o, caminhando fronte a escuridão perpétua, as mãos estavam cruzadas sobre o peitoral esguio do corpanzil jovem. Um passo fora dirigido fora da linha retilínea que outrora havia tracejado em sua mente. Ele caiu. Gritos ecoaram por toda a imensidão: ninguém o ouvia. Ele acordou, saltando da cama de modo afobado. Apoiou os cotovelos no joelho e o queixo na palma da mão destra. Pedaços de vidro estavam espalhados pelo chão.

Anderson Bragança Barros



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